sábado, 31 de março de 2012

los caminos

je ferme la porte et je m'éloigne
je ressens chacune de tes courbes de ce côté
je sais comment tes seins s'insurgent contre le bois
je sais comment tes yeux me croient l'océan
je connais tes fleuves et tes coins

je marche

j'aime beaucoup les impossibilités qui t'illuminent
je les allumerais volontiers rien que pour voir cet éclipse hors temps
je les bâtirais avec tout mon silence pour le regard qui habite tout ton corps
et je finirais par t'oublier à chaque instant pour ainsi t'aimer

finalement



quinta-feira, 29 de março de 2012

dimensões

hesito em dizer a tua altura
os palmos que construo no ar
conhecem o silêncio das raízes
e quando abro impossivelmente os braços
cresces como a margem de um rio pequeno
que atravesso sempre ao entardecer
antes que a noite tudo confunda

a tua altura talvez seja
as pegadas que vou deixando na terra molhada
os frutos que vou colhendo das árvores
e o momento em que os abro e amo

a tua altura é ser dia
e estarmos nele

quarta-feira, 28 de março de 2012

a descer, todos os anjos

é apenas uma ponte agradável envolta em sombras solarengas e degraus cordatos
um pequeno trajecto em arco entre uma e outra margem
são apenas passos mais ou menos longos consoante
a demora da pedra à nossa passagem
o anjo apenas ajuda a subir
para melhor nos ver cair



terça-feira, 27 de março de 2012

le soir

je n'allume pas
il y a des choses que la lumière doit ignorer, comme
le morceau de pomme que l'oiseau a laissé tomber
(qui s'attend à un cadeau des dieux?)
je n'allume pas
il y a des choses que seule l'obscurité peut bercer, comme
l'ondulation de deux corps sur un même chemin
(qui s'attend à la circumnavigation de nos pas?)
j'allume le soleil de la veille
et celui de demain
le matin viendra

sexta-feira, 9 de março de 2012

hábil, o louco no trapézio
não tem rede nem chão
não teme a gravidade
ama só a ilusão
caiu, sim, e agora
definitivamente
dizem,
hábeis na ironia,
os vazios e sentados
os que pagam bilhete
para sentir sangue alheio

nunca fui ver o louco no trapézio
bastavam-me os seus olhos de marinheiro
e as mãos abertas a tocar o balanço das cordas:
último impulso, homem ao mar!
maré a chegar, manhã, amar

pisei o chão com força e descrevi-lhe
os círculos que em fogo via
e dentro ergui-te o rosto
com dedos-cordas
mãos de amar

passas ao longe e eu
conto-te em histórias
de ninguém acreditar

salvo-me