domingo, 6 de dezembro de 2020

Clarão

luz

ao longe

quase fátua

que ninguém viu

assim somos todos

assim são os nomes

que os séculos sopram

e os livros graves encerram

assim as linhas de sangue 

e a fotografia de dias felizes


todos um dia mereceram uma linha 

que o cosmos sempre apaga


é noite ou é dia, tanto faz, 

tudo conspira para nos sossegar

esconde-se o silêncio, o ricto final 

e a inutilidade das esforçadas marés

o pássaro de há pouco que já não faz sonhar

os grãos de areia da tarde mais memorável do mundo

depois de ele acabar


esconde-se de quem não viveu que não havia mais vida

que aquela atenção profunda ao som metálico da passagem das horas

que nunca passaram nem voltarão a passar


luz

tão longe