terça-feira, 31 de agosto de 2010

autobiografia

herdei a necessária mania de cortar
roupa velha para fazer panos novos

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ocre

aride et chaude
cette terre se prête
à tout laisser renaître
car le corps de soleil
a la voix d'eau

Ocre

comme un nouveau-né
tu cherches une première heure
l'heure unique où le sang est encore entier
et le lait et le sein débordants de tout l'amour

Ocre

tu épuises la vie à l'intérieur de toi
l'obséssion est centrale
galiléenne



domingo, 29 de agosto de 2010

adiarei sempre o inevitável
só mais um dia
é certo
vives

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A Merisi

d'où est venu ce lézard innocent
du plaisir de sa morsure
et ce garçon tant
coupable

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

sei como leste a palavra
não é preciso dizeres nada

gostamos da amálgama
entre o cacho e as uvas

e da mão que colhe

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Merisi

falta-me poder saudar Mateus
e o seu anjo dobrado em silêncio

faltam-me os sinos a montante
belos de um canto sem deus

falta-me a distância impossível
e o teu chamamento




A Merisi

a terra deu-te o nome
uma espécie de punhal
cravado nos sentidos

assim viveste

(22/08/2010)

A Merisi

et on peint la transparence avec des couleurs opaques
et on souligne la douleur à l'intérieur du plaisir
et on drape tout toujours d'un rouge
irrefusable

(20/08/2010)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

double

dans le rêve de l'après-midi
le soleil se confondait avec la lune et
je voulais y aller et
j'y suis allée
dans la vie
toute chose belle
est simple

sábado, 21 de agosto de 2010

o pin que eu compraria

tous les voyages
sont vrais
mon ami
par exemple,
là maintenant

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A Merisi

pertences ao contorno escuro do sol
Jesus render-se-ia e com ele traria
as uvas e os montes e o grito
que não chegou a dar
evita entrar no lugar onde se jogava a vida
evita as luzes e as vozes que sangram
sempre que as olhas

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Recado

nao disponho de acentos
para te fazer umas linhas
desde a cidade eterna
do tempo
disponho dele como
se ele fosse todo

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

são apenas pedras e desenhos
são apenas pessoas
umas vivas
outras mortas
tudo parte de ti
nada de novo
nada de novo
conta-me antes
o que partilhas com Aquiles

domingo, 15 de agosto de 2010

todos os caminhos de volta a Roma
passam pelos teus braços
a vida demora e
leva-me

sábado, 14 de agosto de 2010

Guia Turístico Completo

Caravaggio fica entre
Apolo e Dionísio
lado poente

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ao largo

já lês mar alto
como se fôssemos
criaturas pequenas

mar-ventre

e o céu fosse poder
ver terra e gente

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

respirer

oui, les minima

tes mains sur les miennes

ton corps sur le mien






quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Raízes

disse-me o oráculo
que as pedras têm o sabor
que a terra lhes empresta
que as mulheres
ou os homens
são terra
que quer ser pedra

terça-feira, 10 de agosto de 2010

um pequeno medo derrotado
ainda que ao fim do dia
larga a correr contar
a hora que é nova

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

da história que durou toda a noite
retive as migalhas de luz, as gotas
que Penélope roubou a Ulisses

domingo, 8 de agosto de 2010

do sete passado
haverá contas futuras
sorris, talvez
é impossível a felicidade
não ter um tom qualquer de azul
e se não for azul
será esse lampejo líquido
que te assoma aos olhos

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

je viendrai à l'aube d'un rêve imprévu
pour pousser le lendemain avec toi

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

adianto-me um pouco ao abraço das ondas
estreito um pensamento que te seria familiar
se o teu cais fosse chão de mar
a mãe d'água acolherá a milonga dos oceanos
e toda a poesia que aqui não está

terça-feira, 3 de agosto de 2010

je m'éloigne un peu
ce peu qui te rendra ma liberté
comme si je pouvais par un jour humide
respirer près du miroir
qui nous a créés

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

homicídio involuntário

se me chamaste na rua e eu parei e para ti olhei
isso não quer dizer em nada que saibas o meu nome
sou como tu composta de mistérios voláteis
e se a tua mão se demorou um pouco mais no meu braço
isso não quer dizer em nada que saibas o meu corpo
invocas um passado que eu já não reconheço
mas sorrio e deixo estar
já não sei quem és
mas sorrio

domingo, 1 de agosto de 2010

domingo

refez-se a onda na outra que começava
e com ela enrolou o mar numa história
que continua a chegar