los perros

adiantei-me meia hora
não importa ao que venho

troco a carta do coronel
por trinta minutos de ficção

troco a história de um país
pelo coincidir das nossas mãos

abrimos uma pizzaria apenas
para podermos mandar os convites

Amanhã, A Grande Estreia!
Amanhã, Começamos

tudo nos é dado desde agora
permitido, por meia hora

chamamos os cães
montamos os cavalos

está uma montanha inteira
há meia hora à nossa espera

Da tua viagem*

para que iria invocar anjos ou estrelas
se passas num rumor de ferrovia
como a saudar-me de perto
a distância que sabias
desço, desta vez,
deixo que o comboio vá
deixo que me peças que fique
e troco as voltas ao destino
falo-te da passagem pelo Atlântico
do Inverno porteño
da seda a roçar o punho aberto
voando numa sala em Montserrat
da felicidade totalmente inútil
do sentir-tição
as marcas vivas que Camões não vê
Montserrat,
Barrio del Mondongo
sabemos que todo o conhecimento
é inútil, que pôr nomes às coisas
é inútil como já não estares
é não saberes 
que estremeci quando passou o comboio
sem saber em que carruagem te encontrar

* Para o Ademar Ferreira dos Santos

 9-12-1952(-22-05-2010)

Porcelana e papel*

traduz-me isto
que nunca se faça tarde
para subir de novo a montanha
e uma e outra vez reconhecer as árvores
o estranho corte redondo na encosta
e a casa que habita os sonhos
e de onde se parte
sempre

*para a María Alonso Seisdedos

18, calçada de santa apolónia

caravela, barcarola
rumo certo e acabado

água mar
pedra mágoa

sal granito
sonho largo

roda do leme
rosa dos ventos

aonde me levas
se aqui me tens?