domingo, 31 de outubro de 2010

la route

enlève tout
deviens l'âme
avant le souffle

sábado, 30 de outubro de 2010

la douleur

l'homme-arbre regarde la mer
le vent passe
est passé

O Regresso

pede-me a fuga
e o esquecimento
e traz-me contigo
de volta a mim,
a nós

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Un

nos coeurs se touchent
nos fronts se touchent
nos corps se suivent
la vie est un détail

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Roubo

nada sustém a concha das mãos,
fora a ilusão do amparo do rosto*

* María Alonso Seisdedos

a concha das mãos serve de único abrigo ao desamparo de ser
e um verso serve apenas para fingir que as linhas
inacabadas valem mais
como se ali no fim arbitrário (a arte é uma mentira!) houvesse mais verdade! poderia continuar a repetir esta vacuidade até à exaustão das linhas ou do tempo mas acho que me fiz entender, especialmente por quem não me lê, são esses os melhores leitores, os que virão, e além disto, não posso
continuar
(verso isolado, verbo isolado, e a negativa a pungir tudo!)

e a concha?

Costas

o problema da infância
é ela pouco ou nunca acabar

terça-feira, 26 de outubro de 2010

da injustiça

a vontade é redonda
bem vês que não me serás espelho
e eu não serei vale para o teu canto


esse ouro forjado a mil-mãos
será entregue a alguém que
talvez nem precisasse

muito
tu sais que le bonheur consiste
presque exactement
à prendre le dernier métro

après tes bras

domingo, 24 de outubro de 2010

Un

ce lieu là, ce centre
la rencontre là où
on ne peut que
être un

j'explique

ce lieu là, ce centre
la rencontre là où
on ne peut que
être un

demain

si on avait le temps
de s'étonner que
c'est fini


les enfants sont où?
ils jouent à
perdre de vue

sábado, 23 de outubro de 2010

perguntas ao relojoeiro

se o coração falhar um compasso
passará a bater desacertado
do tempo primeiro
em que sentiu?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

se o sol pairar baixo
podemo-nos enfim decidir
a apanhá-lo mais à frente
antes do poente

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

dada a perturbação extrema
resta-nos morrer ou viver
ou amar
ouve o canto dos teus dedos nos meus e diz-me
se não seria desejável haver um nicho de eternidade
onde coubessem inaudíveis as linhas que agora me desenhas
j'aime toutes les syllabes
que tu prononces sans
hâte

j'aime attendre le mot
et le monde
dedans

puis
partir

terça-feira, 19 de outubro de 2010

cheiras a intransigência
e eu prefiro sempre
o odor da mudança
como a chama
ou
a folha
que o vento
apenas deixou pousar

domingo, 17 de outubro de 2010

Un

raconte-moi doucement
les mémoires d'un ailleurs
qui m'appartient,
même s'il est le tien

n.b.

desmaiam as rosas nas nossas mãos
que é como quem diz
desfolhámos cruelmente o tempo

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

poème presque invisible

petite vie
petite mort
petite vie

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

dentro

fui-te buscar à estação
hoje
não vieste
nenhum comboio te trouxe
e todos os carris desabaram

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Un

tout ce qui nous sépare
c'est-à-dire
la vie et tous ses jours
la route et ses chemins

est aussi ce qui garde l'instant
de pleine connaissance
aussi mystérieuse
que le nombre de lignes sur tes mains ou
que le nombre de tes pas
vers moi
(en toi)

par exemple,
un fruit entier tout entier
qui ne l'est plus

c'est-à-dire

nous

domingo, 10 de outubro de 2010

Un

j'aurais dû te dire
une fois pour toutes
sans que jamais tu ne l'entends
que ceci n'est pas un tango

Un

tu as l'heure?
c'est maintenant,
le bonheur?
on marche un peu
nulle part?
on tourne en rond
sur nos pas?
on fait semblant
que ce n'est rien?

et après,
c'est quand qu'on vit?

Instante

do rumo dos pássaros
nada se sabe
apenas que passaram

sábado, 9 de outubro de 2010

O mar de Moledo*

vem lenta a onda
e como tem tempo
torna ao mar


e tornada se fica
sempre a chegar


vem lenta a onda
e como tem tempo
torna ao mar


*das fotografias de María Alonso Seisdedos

da Vida

e de quem nunca soube
fazer laços à corda
apenas nós

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Un

je ramasse les heures comme
des fruits tombés trop tôt
de l'arbre

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

petit poème rouge
brûle tant
petit poème noir

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Un

au sol
bien au sol
le pied avoue
ne pas pouvoir
ne pas aimer

terça-feira, 5 de outubro de 2010

rasgada a pele num traço que lhe serpenteia o gesto
resta-me o teu olhar
que tudo refaz

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Portrait

le trait révèle la main qui l'a dessiné
cette courbe, cette ligne plus épaisse ici
plus fine et tremblante là et ce choix inquiétant
de prendre tout de la source et de ne plus savoir le chemin
de retour



tu sais que je ne finis jamais mes lignes
je te prouverai cela
un jour

poder sempre ter o teu peito como garante de abrigo e liberdade
sentir o mundo por ti e em ti e fazer disso uma causa de luta
pela qual morressem muitos
e ficassem tantos ainda
para contar
o meu direito
a ter-te aqui

domingo, 3 de outubro de 2010

Un

être au plus profond
l'intérieur du centre
la totalité
toda

sábado, 2 de outubro de 2010



palavra osso
palavra sangue
palavra vida
ela
que vem e que passa
(e às vezes anda longe)
ela
sempre material e
impoética

impossivelmente
poética

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

começo hoje o mês concordando
com o calendário. é que hoje
é um primeiro dia