sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

est-ce matière pour un poème?
lui, l'amour
je le laisse ici et je me lave les mains
dans tous ses visages ou alors
faudrait-il
dire
est-ce matière pour un amour,
elle, la poésie

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

o peregrino

partiu cedo
em vôo livre para
um lugar estranho

e volta como eu fico

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

tormenta

aucune différence maintenant
entre le jour et la nuit
Baltasar e Blimunda desconhecem-se
donne-moi une cigarette
et laisse ta main trembler

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

l'élan

le sommet n'est que la chance
de pouvoir descendre

a luz que te aproximava
da consciência do meu olhar
o espaço que não deixaste entre nós
o silêncio que cultivas com todo o cuidado,
respondeu-lhe

domingo, 26 de dezembro de 2010

coração-víscera

sangra por se ter rompido
agulha, linha e tempo
e aí tens a vida

ímpar

julgo que perdi um brinco nas tuas mãos
que farei do outro?

sábado, 25 de dezembro de 2010

sustento

do pão que dorme há vinte e cinco anos
envolto em cuidados e memórias
nasce a sombra que protege
e a água de que brotam
as espigas futuras



quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Votos para Quadra*

dado que a quadra tem apenas quatro versos
e que já gastei dois (como voam os dias, todos os deuses!) irregularmente
resta-me apenas agora desejar-te
sem nada acrescentar





*eu sei que leram "natalícia"
mas há mais do que um nascimento

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

vogar

digo-te
se te dissesse
que não consigo andar por versos
como prados e nem os prados consentiriam
pés sujos de tinta que não seja sangue vivo
de tanto andar e nada encontrar
eu também não consinto
que se suje a terra
com a boca

sou do mar

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

sebastiânimo

deste corpo ao anseio de não saber
o que houve contigo?
o que houve contigo foi o mar e o tempo
e uma imensa manhã sempre futura e sempre certa
e a tua resposta que nunca é definitiva e que espera sempre
mais um dia

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

projet de vie

le soir
je déduis les probabilités de trajectoire
pour les oiseaux qui passent
je pense à des noms possibles
pour attacher leur vol à mes doigts

domingo, 19 de dezembro de 2010

projet de vie

le matin
je jongle des cailloux et
je fais la comptabilité des pierres
qui ne nuisent aucun passant
les passants ne passent pas
les pierres sont par terre et
les cailloux sont tous
retombés

sábado, 18 de dezembro de 2010

foi uma vez

vendeu-se a sombra antiga do Mondego
o verde escuro que se via da janela
em bicos de pés e olhos altos
o merceeiro morreu e levou com ele
o nome do balcão onde as crianças se debruçavam
e pediam sonhos ou rebuçados, que diferença poderia haver?

depois, à tarde, o livro único abria os seus mistérios mais uma vez
e a história voltava a ser toda
nova

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

todos os começos são míticos
chamemos hermaion ao nosso
e que ele passe e nos roube
outra vez ainda!
a lira

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

7

par nécessité
ou par désordre
les dés que je lance
n'ont qu'une seule face
je gagne toujours
je perds toujours

je me lève de la table de jeu
j'ouvre la porte et je sors

il y a six chemins possibles
je choisis l'autre

beira-verbo

acercarmo
-nos

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

destempo

levaste contigo o poema
o pássaro e a voz

o antes já não o é

trago comigo um poema
um pássaro e uma voz
de quanto sal precisamos
para sabermos
da sede?

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

organito

la nuit est l'eau-forte où je garde
le matin

le matin se lève comme le vent,
sentimental

la tarde
cantando tangos

domingo, 12 de dezembro de 2010

o azeite que escorre da palavra
puro unto liquefeito, sente-lo?
é o mesmo que nos leva a dizer
que nenhum verbo tem prazo








Cuvée d'Appellation Partagée

ceci est l'histoire des premiers raisins de l'année
des mains qui les resseraient si fort
du vin qui ne sait pas durer


sábado, 11 de dezembro de 2010

talvez todos os dias sejam
o renascer da hora primeira
em que começámos a morrer

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

tronco comum

o ramo ainda tremia
do pássaro que lá pousou

tremeu ainda quando o vento
passou a caminho do sul

dentro de um breve momento
será galho e terra redonda

sob os teus pés

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

9 de Dezembro, sem ti*

desfiz as flores
os lírios, lírios,
E rosas também

que me deste
teci delas larvas e botões que reguei
e dos campos onde elas nascem
lavrei sóis que terão noite
apenas na estreia

quando vieres
quando eu for
subiremos nove vezes
nove vezes desceremos
os degraus cobertos de flores, rosas,
e lírios também
e entraremos enfim no palco rangente
de todas as mãos que ali se darão
em cenas de eterno improviso
e algum esquecimento
jogaremos a fingir de sérios

a divina comédia em que és apenas
o meu eterno companheiro no mais belo
engano

e se a eternidade tiver um degrau vazio
é lá que deixo
as flores que me deste, desfeitas, amadas,


nascentes


* Ademar Ferreira dos Santos: 9 de Dezembro de 1952-.
nunca
nunca mais conseguiremos
confundir as mãos e os olhos
a porta fechou-se e a janela
não tem caixilho nem vista
para o mar nosso

os dias

fazendo novelos
de fiapos de neve

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Para a María Alonso Seisdedos

não sei como lês nos dedos das mãos
as letras das canções por cantar
não sei como poderiam as estrelas escapar
do céu que enquadras no desejo
é dessa ode por começar que
celebro contigo hoje esse pedaço de céu
que sete dezembros vêem sempre chegar
seis dedos, sete dezembros e uma vida inteira

chanson volée*

tu y vas,
tu cours,
tu voles,
plein d'espoir, de claves, de tumbaos, de pregones, de flores,
de toute la musique qui vient jouer sur tes doigts
conquise,
pleine d'espoir, de claves, de tumbaos, de pregones, de flores
de ti,
tu y vas,
tu cours,
tu voles,
la vie!


*merci, EM





domingo, 5 de dezembro de 2010

Bernardo e Alberto

a janela do 4º andar abriu-se
ouviram-se passos corridos
e vozes cantadas
o sol é sempre maior
cá fora



sábado, 4 de dezembro de 2010

Un

la pause reprise en apnée
le silence repris en geste
tout le temps du monde

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Un

que pense ton sang de
la violence du geste
captif du moment

ton sang
pleure-t-il

tant

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Domicile

on te trouvera demain
et ton histoire sera publiée sous
S.D.F.
pseudonyme d'être humain

on ne t'a pas vu hier
on te trouvera demain

on a une place pour toi
on s'occupera de toi demain

tu seras abrité dans la paix des lieux
il y aura du silence, tu dormiras sans peines
ni froid
ni rien

tout l'après-demain


sarabande

suite de bonheur intact
pour improvisation tentée
et trois temps jamais trouvés
ce n'est pas le même mot
ce n'est jamais le même poème
cette variation n'était pas prévue