quinta-feira, 31 de março de 2011

refrão para duas vozes e um eco

não sei se é a mesma canção
mudou as pausas, pesa-lhe a letra
hesita perante a escala, queria ser mar
hesita perante a escala, queria ser mar


quarta-feira, 30 de março de 2011

suite

rien d'historique sur le soleil printanier au bord de la Seine
mais, si cela se racontait comme dans un chapitre qu'il faut souligner
et si cela avait l'audace de prétendre avoir un air de vérité
de quelque chose qu'il faut savoir
pour raconter plus tard
comme dans le temps
où l'on partage
tout







terça-feira, 29 de março de 2011

la nuit comme la mer
se calme au passage de la lune
tourne autour de l'ombre d'un regard
vague autour des bras qui ne luttent plus contre
la lumière du jour
le jour comme la mer
soulève sa fleur de sel au passage des vents
l'abandonne sur ma peau
tourne autour de la lumière d'un regard
vague autour des bras qui ne luttent plus contre
la récolte du temps
de l'amour



estende o sopro de um momento até ele ser apenas puro tempo

meia-tarde, uma primavera ou o botão que a árvore promete







segunda-feira, 28 de março de 2011

quantos voos cabem nas mãos?
e quanto desses voos é ainda
prisão?

sábado, 26 de março de 2011

ascension

nous suivons l'oiseau
qui chute dans le vide
pour pouvoir s'envoler
regarde son jeu constant
avec le vent, regarde
ses ailes contentes
son corps tendu
flèche initiale
regarde la douceur
d'un cercle improvisé
dans les caprices
des courants
ou
comment
le vol s'enracine

la chaise aux oiseaux

tout un répertoire
des milliers de chansons
et les possibilités de les dire
autrement
note fausse ou juste vulnérable pour
un temps qui passe coule part et
ne revient pas
il faut le dire
autrement
tout un silence pour
des milliers de mots
et leurs impasses

les oiseaux n'étaient que
des pas aussitôt perdus
les souliers n'étaient que
des formes à chaussures

il faudrait trouver le ton
pour dire que la chaise
m'a renversée
que je n'entends que
la rondeur de mes pas
autour des tiens et que
M. Ellington a compris
tout cela, oui, redis-moi ce
blues pour la sous-pulsation
du bonheur

que cache le monde?

sexta-feira, 25 de março de 2011

miró

rien n'est plus à sa place
les pas des oiseaux ont renversé la chaise
où la femme attendait


quarta-feira, 23 de março de 2011

o padrinho

sai um mentiroso
entrará outro
logo depois
urge afundar
Camões


segunda-feira, 21 de março de 2011

espero o nascer do dia
para te despertar
talvez entretanto
sonhe

manual de instruções para hesitantes

vive agora
pergunta depois

domingo, 20 de março de 2011

deixa-te vogar no mar que te baila nos olhos
que não há onda que não nos traga de volta
ao tempo em que somos a orla segura
da praia

sábado, 19 de março de 2011

ando aqui às voltas
com os limites desta flor
contida toda até ali
no limite imensurável
de eu não lhe saber
os bordos
de ela ser flor
de eu ser gente

Un

sa volonté de contenir
ne fait que confirmer
la possibilité d'un
bouleversement
entre-nous
la digue

sexta-feira, 18 de março de 2011

legado

entre belas flores artificiais
as crianças radioactivas
brincam ao futuro

quinta-feira, 17 de março de 2011

j'oublie ta pure présence
elle était là, n'est-ce pas?
j'oublie le goût de ta densité
mais elle était là, juste maintenant
ou c'était peut-être il y a longtemps
hier, que sais-je, un jour dans le calendrier
lui, il sait, il doit savoir, puisque il sait tout

il me faut un train ou un passage ou alors
devenir comme toi une image
et m'oublier

quarta-feira, 16 de março de 2011

a um desconhecido

que o mar me leve
aceito
que a terra me engula
aceito
que o céu me abata
aceito
tudo isso é cruelmente
justo

que as tuas mãos
me envenenem o futuro
que os teus passos decididos
se dirijam para a mesa de um acordo
lugar exacto onde caem as árvores
e que as tuas mãos assinem
a morte dos meus filhos
a morte dos teus filhos

não.

talvez te negue
um lugar a esta mesa
de gente com as mãos
sujas de terra e de sol
e algum sangue

talvez te deixe ir amanhã
ao meio-dia para o campo
em fukushima

iremos todos depois
depois da ira de todos os deuses

terça-feira, 15 de março de 2011

será preciso mais um poema
para declarar a absoluta necessidade
de tudo?

domingo, 13 de março de 2011

comment voulez-vous que les êtres heureux
puissent aimer? comment imaginez-vous
les êtres qui sont comblés, qui ont presque
honte d'avoir tout, qui aimeraient même
avoir moins et pouvoir peut-être
sentir un manque, peu importe
lequel, oui, même celui
de l'amour
desfez-se aquela vida na onda
de um azul que já pôde ver
estava contente
talvez por um dia sem sobressaltos
talvez por ter ganho algum tempo
do trabalho adiantado na véspera
talvez por nada que mereça ficção
a não ser que fosse suprema coincidência
estar ele (e por que não ela?) escrevendo
um primeiro poema sobre o tempo
e a beleza que é
tê-lo



sábado, 12 de março de 2011

Un

je le savais avant tes bras
je n'en doutais point
l'envie d'être là
a sa lumière
é o meu destino que cumpro
sempre que refaço um laço sem tecido
e chamo-lhe nu em vez de inexistente
e pego nele e ato-o e aperto-o mesmo
com as mãos
é o meu destino ver algodão
ainda em forma de botão-de-rosa picante
enquanto tu apenas vês uma metáfora que entretanto
se desfiou

sexta-feira, 11 de março de 2011

da poesia

desconheço a cor de uma dália
ignoro se é de um tom escuro e carnal
ou se hesita e é delicada e se deixa tocar
e mais não sei

quinta-feira, 10 de março de 2011

pego no manto do cair da noite
e passeio-me pela borda da vida
pensando que bom seria descer
pelo mais ínfimo brilho
do teu olhar

terça-feira, 8 de março de 2011

le pli

se livrer
suivre le fil
de son labyrinthe
revenir sur un nouveau impasse
puis tracer une route entre les murs
chercher la lumière entre les murs si hauts
les écarter pour pouvoir danser et se laisser tomber
dans tes bras
chercher la lumière entre tes bras si hauts
les écarter pour voir la terre puis les renfermer
autour pour
éloigner les murs
si hauts
se livrer

interpenetração

e da mulher nasceu outra
e do homem nasceu outro

abc do amor

encontro-coito
coito-menino
menino-fome
fome-
amanhã re
começamos.

segunda-feira, 7 de março de 2011

bis

engano-me sempre no pregão
apenas para o poder repetir

domingo, 6 de março de 2011

sept lunes

introuvable derrière les pages
d'un récit désormais silencieux
l'ombre impossible de tes mains
regagne mon corps et me trouve
une place
não mudou em nada
a sonata intemporal
de encontro e fuga
continua bela
a varrer memórias
e a criar cantos onde
param pedaços de flores
momentaneamente
antes de serem o pó
que só a terra conhece
e ama

parto para dentro
e visito os pássaros
que a tua voz me traz

sábado, 5 de março de 2011

aprender o desconsolo e a paz
de querer pouco
ser retirante de um mundo
em agressiva expansão
fazer de uma palavra
nicho
e esconder lá
o nosso futuro
azedou o vinho
também poderia ter dito que
tudo tem o seu tempo mas seria uma pena
mais uma vez estragar esse vinho que entretanto
bebemos

quinta-feira, 3 de março de 2011

do nada
retirámos a gota de água
que nos percorreu devagar
antes de nos matar a sede
e de nos tragar inteiros!

quarta-feira, 2 de março de 2011

9

seul ton corps m'est sacré
ton corps-mémoire
ton corps-soif
ton corps-blessure
ton corps-miroir
ton corps-moi
ta faille
ta fuite
-moi

nous sommes en mars et
je reconstruis tes artères
patiemment en écoutant
comment fait la marée
par où va le fleuve
elles seront puissantes
et comme toujours
infiniment vibrantes

décembre approche



terça-feira, 1 de março de 2011

quando já não formos
a lua será mais lenta
a despedaçar o sol