quarta-feira, 26 de junho de 2013

intenção

vou escrever um poema para ser como o Mistral
e levar com muito espanto e para muito longe
a água que te cobre o rosto
a água que de tão salgada 
pertence ao mar

saber quanto pesa o teu seio inteiramente nu
quando a minha mão se abre lenta em concha
e ir indo num vagar de onda que ainda apenas vem
é a isto que chamo tempo

quinta-feira, 20 de junho de 2013

a casa

a voz que já não se ouve
continua a percorrer com os dedos
das mãos bem abertas as paredes do corredor
da casa que por não termos construo com vista
para ontem

quarta-feira, 19 de junho de 2013

haiku decrescente

rolou lenta a pedra
pela montanha
cai ainda

terça-feira, 18 de junho de 2013

non sense


vermelho-cereja
verde-limão
azul-mar

ou talvez prefiras 

vermelho-mar
verde-cereja
azul-limão

ou ainda

o Mar Vermelho
cerejas ainda verdes
o limão bolorento que ninguém deitou fora

como vês
todas as palavras
estão infinitamente gastas

segunda-feira, 10 de junho de 2013

el pajaro del olvido

le silence poétique d'un
est l'enfer réel de l'autre

si l'on crie suffisamment fort
cet oiseau quittera les ciels
qu'il ne comprend pas

et viendra mourir trop près
comme si son sang était
rouge comme le mien

le silence d'un ciel
sans vol ni sud