quarta-feira, 22 de maio de 2019

9*

a tombar
só a pétala leve do jacarandá
ou a roupagem da normalidade
um corpo inteiro de sede, não
um corpo inteiro de ser, nunca

quem te roubou sabe 
que nada sobra
que nada fica

caminhaste para lá 
dos dias
da bela noite
segues sozinho comigo
cozinhas com a minha fome
e bebes dos meus sonhos
e não há truque que não tentes
para me fundear os olhos no horizonte
caravela íntima 
cego tropel 

o sol dobrou a última linha
grão-luz apenas antes
do eterno olvido


* à memória de Ademar Ferreira dos Santos

quarta-feira, 1 de maio de 2019

dia primeiro

ao cravar-se a garra
recolhemos o corpo no
doce silvestre
de ontem
rasto silente
nunca anunciado

corremos os dedos
por toda a história
todos os antes e depois 
de absolutamente tudo
e nunca achamos
a garra que sem memória rompe
a vida toda

nas mãos
o sangue que assoma
a pele rasgada
o momento