sexta-feira, 22 de maio de 2020

Dez*

somos tantos e tão iguais
conto-te ou não?
os que ainda estão
fazem contas à vida
apanhados na globalização
do silêncio e o do espanto
confinados ao momento
e à condição

a partir de hoje
conto-te ou não?
já não me chegam os dedos das mãos
para dizer a tua ausência
já não me chegam as saudades para tirar-te
do fundo de todas as coisas que rasgam a calma

conto-te
tudo é o mesmo ainda
mas mais calado
mudos a olhar o passado
e nem o diabo nos quer a alma
nem os deuses nos querem criar

a partir de hoje
dizem que tudo mudou
na passagem do momento
conto-me a mim
e a ti


*Ademar Ferreira do Santos, 9/12/1952 - 22/05/2010