domingo, 4 de junho de 2023

Noite no Marquês

pego no livro mais próximo e leio 

o rasgar côncavo da lua na página

e o pequeno golpe no dedo

que cicatriza o gesto

é impossível

escapar


as coisas que são ditas antes

alcança esse medo sem querer vencê-lo

apenas senta-te com ele e conta-lhe

as muitas vezes que o viste abeirar-se

da liberdade

 

passar a outra coisa

 e

a outra coisa que é sempre outra

e que sempre vem

anuncia-se com o passar do momento

e inaugura a eternidade

compomos passos

titubeamos

o oceano não se pôde abraçar inteiro

nada se pode abraçar inteiro

entretanto

já resvalou o momento

e move-se o chão

e

já não estamos aqui.