segunda-feira, 28 de maio de 2012

o lado esquerdo

situemo-nos
encontremos uma rua
fios que atravessam o passeio
e um homem soberbamente distraído
depois, continuemos nessa mesma rua larga
e um pouco mais acima por volta do meio-dia
reconheçamos a mulher que tropeça todos os dias
nos mesmíssimos fios que nenhuma mão teceu
despojos de um deus-menino-homem
sobras vivas que o destino ignora
sonho soberbamente atento
à sua própria queda

estamos no lado esquerdo
de uma mesma rua


terça-feira, 22 de maio de 2012

verso para me achares

veio uma rosa parar-me às mãos quando eu distraída olhava o mar



terça-feira, 15 de maio de 2012

incredulità

disse-me Tomé que sempre acreditara
que sabia sem sombra de dúvida
que o assombro não era de fé
mas de carne, sangue e amor
Ele, ali, aberto
incredulità!
gritou

disse Tomé que não tocou
que fechou os olhos 
e Ele entrou

eis o mistério
esse sim
totalmente impenetrável
deus maior de humana mão




domingo, 6 de maio de 2012

evidências

não há segredo nem explicação
as coisas são o que são:
todos os sentidos
mais a incompreensão
e talvez o esplendor do amor

basta um sopro de terra
o assomo da manhã
o cheiro húmido
do azul

basta um ou outro som
podem ser palavras
canções de lavra e fome
canções que transbordam
de lábios cheios

basta um eco devolvido
e entregue em mãos
e pelo meio as montanhas
e os desfiladeiros abismais
e o caminho que há-de chegar

basta ouvir o silêncio que há
quando não há mais nada a esconder



sábado, 5 de maio de 2012

cicadidae

rasa o chão
trepa lentamente pelas ervas
abraça-se a um tronco
e toma a terra toda
numa evidência
equidistante
baque longo
e quente
o canto

ouve