segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

a companhia

o teatro acabou

depois ele, a velha chinesa

morreu medicada em casa do filho

o novo palco é agora do outro lado da cidade

os dedos dos actores tremem mais agora

as cores de plástico parecem gritar

a sua inutilidade

as cadeiras vão vagando


a incerteza insinua-se, fria,

o gesto falha o contorno do lábio

ou será a boca que já não se oferece

ao disfarce do tempo em laços e máscaras

é insuportável pensar na sala vazia

são os últimos

a sua arte é a última


na grande mesa da única sala comum

ninguém se atreve a tocar na carta solene


alguém pede ajuda com um botão

alguém traz o chá

vem o encontro no meio de todas as vozes

brilha o pó que se anichou nas rugas

é a última performance 


todos pedem silenciosamente

que os matem



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