domingo, 3 de dezembro de 2017

Regresso a Buenos Aires

é como se o piano nos viesse buscar 
dedilhando um compás adentro
seguindo-nos pela pista 
rondando o desejo
abraça-nos o bandonéon 
desfaz-nos o bandonéon
segue a ronda sabendo-nos presos ao momento 
segue sem pena dos fantasmas que deixamos
lamento eterno de não poder durar
látego abafado da tua voz 
e o teu corpo revolto a tudo dizer
este é o único momento
este é o momento sem agora

que penas contínuas são essas
que nunca as conseguimos contar?
ainda há pouco estava nos teus braços
agora mesmo te senti comigo
ilusão antiquíssima 
segue comigo o fio

apagam-se as luzes e saímos
repetimos os versos, um a um,
dois por quatro perdidos na noite
a ronda agora é de dois
roubámos o piano e o bandonéon
acordamos livremente o olhar e os passos 
contamos cada segundo como nosso
contamos os dedos da fortuna e
agora estamos prontos 
este tango nasce assim

tempo desmedido
tempo vivido