dedilhando um compás adentro
seguindo-nos pela pista
rondando o desejo
abraça-nos o bandonéon
desfaz-nos o bandonéon
segue a ronda sabendo-nos presos ao momento
segue sem pena dos fantasmas que deixamos
lamento eterno de não poder durar
látego abafado da tua voz
e o teu corpo revolto a tudo dizer
este é o único momento
este é o momento sem agora
que penas contínuas são essas
que nunca as conseguimos contar?
ainda há pouco estava nos teus braços
agora mesmo te senti comigo
ilusão antiquíssima
segue comigo o fio
apagam-se as luzes e saímos
repetimos os versos, um a um,
dois por quatro perdidos na noite
a ronda agora é de dois
roubámos o piano e o bandonéon
acordamos livremente o olhar e os passos
contamos cada segundo como nosso
contamos os dedos da fortuna e
agora estamos prontos
este tango nasce assim
tempo desmedido
tempo vivido