vão-nos deixar sem nada
vão-nos tirar o pão da boca e a boca e o pensar nela
e os beijos que matavam a fome e geravam motins
e o motim maior que devora o pensar e o saber
e fica só assim a sentir a destempo
e o tempo, o tempo
o tempo
ontem
ou noutro dia qualquer
passei em frente do Coliseu
o concerto tinha definitivamente acabado
a rua e as paredes estavam miseravelmente sombrias
e ontem, ainda ontem, abri devagar as tuas mãos por nelas
vagar o sol
é pouco, tão pouco, fui apenas o movimento redondo dos teus olhos
quando ao chegares
parti
não nos vão tirar mais nada.