domingo, 21 de março de 2021

A garganta

 para medir a distância entre os sulcos

teria de espraiar os dedos um pouco

abri-los em leque numa noite de Verão

quando engoles café amargo e ilusão


sigo os trilhos, perco-me

regresso ao toque e a mim

o gesto é proibido

o tempo é um garrote


abrem-se todas as fronteiras

na ponta dos meus dedos


talvez tenhas pousado o café

talvez te tenhas armado de silêncio


un corps entier

entièrement à l'écoute


se acaso viesse a manhã

ouvir-te-ia contar

paisagens impossíveis

de conter