tudo é inteiro
esse caco é apenas pedaço
falha, vaso sem serventia, copo vazio
de todo o líquido possível
esse caco é inútil
fere apenas
não se lhe pode colocar uma flor dentro
não se lhe pode derramar champanhe dentro
não acolhe lágrimas saliva desejos de coisas boas e novas
coisas boas e novas, um caco!
esse caco fere
não podes envolvê-lo amorosamente como dedos
não podes levá-lo aos lábios e deixar que a língua goze na lisura do vidro
não podes encontrar-lhe na borda a forma do mundo
esse caco é agora ferida
a transparência (a manhã)
tinge-se de um rubro negro dor
porque não vês não compreendes
a natureza desse pedaço
que tens nas mãos
tudo te é inteiro
o copo partiu-se