terça-feira, 22 de janeiro de 2013

na ilha

pertencemos ao tempo
e com ele aprendemos
a espantosa liberdade
do instante seguinte

por isso nos despimos devagar
por isso vivemos a comoção do gesto que quer dizer o antes
por isso saboreamos o alento descompassado de quem perde o pé em mar próprio

e o grito absurdo que se nos segue é ainda e sempre antes de tudo
e a maré veio mais uma vez confirmar
que naufragámos e nos recolhemos
nos braços seguros da ilha

não temos nome para nada
a ilha é desconhecida

como os teus olhos sob a sombra de uma dúvida nova
como os meus olhos que não sabem deixar de olhar para os teus
nunca os vi, como são, o que dizem, que cores tomam sob os teus que agora
me respondem?

pertencemos ao tempo
e nele nascemos