segunda-feira, 21 de maio de 2018

7 noites

ainda não

nesse dia (pela manhã?) acordaste
como todos os dias
e levantaste-te
corria o massacre em Gaza
escreviam-se poemas sobre o massacre em Gaza
escreviam-se poemas sobre o violentíssimo desaparecimento da Realidade
faltavam palavras para falar dos que tombavam
a menos que nos explodisse o peito
nesse dia corria o dia de hoje
a Realidade avisava
esse dia é hoje
recebo os pedaços do teu peito
recebes tu os meus
no mundo possível da manhã do dia catorze
recuemos um pouco
treze de Maio
tranquila me dizia
se me tivesse inquietado
se me tivesse pressentido num dia como o de hoje
se me tivesse prevenido com as teorias e postulados dos Mundos Possíveis
e te tivesse gritado para não me deixares ver o dia de hoje vinte e um de Maio?

se pudesses ver como o princípio do tempo se parece tanto com o seu fim

a rapariga com olhos de caleidoscópio que encantou os alunos esta manhã chama-se
Lucy (in the Sky with Diamonds)
o Miguel que veio da Galiza, como a María, dá-me versos sem querer, pão amargo para a boca
daquele mate parecido com o gosto da tua língua na minha
na camisola do petiz enamorado esta manhã lia-se LEIBNIZ em grandes letras nas costas
ainda o filósofo a rondar-nos com todos os seus mundos possíveis às costas
e nós que lhe damos razão porque
ouve:
como teria Leibniz imaginado que chegaríamos aqui
a este amargo dia sem mate
sem ti?