segunda-feira, 14 de maio de 2018
A Inauguração
chegámos ao fim dos tempos
explode-me o peito de não ter palavras
que te levantem para que ouças que afinal
a pedra da injustiça não ergueu paredes
a bala silva só a canção do surdo
e nunca a nossa
nós, os que ouvimos
nós, os que sentimos
amarga-nos o gosto do metal e
sangramos quando feridos
a lança ou palavra
pesa-me que não te levantes
queria dizer-te que sinto os lábios secos
com tanta poeira da história
sei e sinto o gosto do sangue
de quem ainda fica um pouco mais
e se despede devagar da ilusão do chão comum a que chamamos humanidade
mordo os lábios devagar e desfraldo a única bandeira a inaugurar
o único lugar soberano, chão de mar e vento
que nunca mais poderei nomear
cai o pano largo
Gaza-Lisboa, 14 de Maio de 2018